sexta-feira, 20 de julho de 2012

Edição Extra


Meia-noite e quinze no relógio de pulso e meia-noite e dez no relógio da catedral. Esse era eu tentando correr mais rápido do que o tempo. A quinta-feira havia acabado de entrar e eu sequer saíra da quarta. Enquanto eu via os últimos insones desligarem as luzes de suas casas e preparando-se para o sono, eu ainda estava caminhando pela rua. "Tenho de trabalhar menos, quem sabe umas férias na praia", conclui. Naquele ano aconteceriam eleições para prefeito e os editores do jornal caíam em cima de nossas carcaças como urubus. Eu estava esgotado e precisava de um trago. Era o dia 7 de Junho de 1951 e, bem, nessa época não era incomum nem tão mal-visto quanto hoje o fato de um homem beber após o expediente.

Dirigia-me ao bar do Amaral quando uma chuva forte me pegou de surpresa. Como estava perto do local, resolvi correr por debaixo de uma marquise, o que não me impediu de chegar com o sobretudo molhado ao meu destino. Um dos garçons o recolheu e o pendurou em um cabide perto da jukebox desligada. A banda da casa tocava seu repertório repleto de standards de jazz, salsa e polca. Antes que eu pudesse fazer meu pedido inicial, sempre uma grande caneca de cerveja, uma mão acena para mim de uma mesa lá do fundo. Pela gola do terno já levantada, a gravata torta e as mangas da camisa branca dobradas me dou conta que se trata de Heleno, colega do Edição Extra.

- Vem sentar com a gente, seu sacana! - gritou com seu jeito expansivo.

Peguei minha cerveja e fui até a mesa. Uma moça loira e vestida elegantemente fazia-lhe companhia. Heleno logo nos apresentou. Seu nome era Leila e fumava uma cigarrilha.

-  Alguém ficou na redação? - perguntou-me Heleno.
- Só o Matias.
- Um grande lambe-botas. Só ele mesmo para levar o Heitor a sério.
- Estive pensando em voltar a fazer cobertura esportiva, falando nisso.
- Esportes? Nesta cidade? Sequer um time de futebol decente nós temos!
- Heleno, o quê eu estou cobrindo atualmente?
- Política. Você é o melhor da cidade, aliás.
- E, por algum acaso, temos políticos decentes? Não, mas ainda assim cubro.
- É, acho que você me colocou em maus lençóis na frente dela - respondeu rindo e colocando o braço direito ao redor de Leila - Escuta, você reconhece as duas moças na mesa em frente?

Antes mesmo de olhar para trás, escuto vozes familiares comprando cigarros.

- Não são as garotas da Rádio Capital? As cantoras? - perguntei o mais baixo que podia.
- São elas mesmas, Dolores Ribeiro e Marta Miranda. Hoje mesmo fizeram um número no programa do Antenor Castro. Ouvi enquanto escrevia sobre a campanha do filhinho do ex-prefeito.

- O Heitor me disse que queria falar contigo amanhã. Acho que é por causa desse seu artigo.
- Que se dane aquele gordo impotente! - e Heleno levantou seu copo propondo um brinde, o qual acompanhei com prazer.

Após virarmos o resto de nossas canecas de uma só vez, Leila aponta para a mesa em que as divas do rádio se encontravam. Dois marmanjos trajando ternos bem cortados sentaram cada um ao lado de uma das garotas. Um deles era Marcelo Castro, herdeiro da Rádio Capital, bem como de algumas outras empresas, e o outro seu primo Jair, filho mais novo do atual prefeito. Todos conversavam animadamente e faziam bastante barulho. Bem, aquilo era um bar, então não me importei.

- Elas parecem dois rouxinóis engaiolados - enfim Leila dizia algo.
- Ouvi dizer que os artistas da Capital sofrem nas mãos do Castro - completou Heleno.
- Ah, essas fofocas do Frank Rockfeller...
- Não, não foi o Frank que me falou e sim a nobre loira sentada ao meu lado - falou enquanto apertava Leila.

Marcelo e Jair bebiam whiskey como se quisessem matar a sede após uma maratona e logo começaram a trocar passos quando iam ao banheiro. Continuavámos a tomar cerveja e Leila permanecia sem beber. Quando perguntei-lhe o motivo ela falou que o álcool prejudicava suas cordas vocais e ela tinha um teste, indicado por Frank Rockfeller, na Rádio Campos na manhã seguinte. Sabendo que Frank era um tremendo vigarista, avisei-lhe para tomar cuidado. Qualquer sujeito que se chamava José de Arimatéia e utilizasse um pseudônimo ridículo como este merecia toda a desconfiança do mundo. Não que eu fosse contra o uso de pseudônimos, mas não custava ter bom senso.

- Você leva o Frank a sério demais, Artur. O que um afeminado como ele poderia fazer de mal para ela? - e pôs-se a rir com o canto da boca.
- Tenho lá minhas dúvidas a respeito das preferências dele.
- Eis um desconfiado convicto - disse ele balançando a cabeça.

Como estavámos sem cerveja e os três garçons não conseguiam dar conta de todos os pedidos, fui buscar mais dois chopes no balcão. Um sujeito com barba por fazer me pediu um cigarro. Tirei o maço do bolso de dentro do terno e dou-lhe um. Ele acendeu e me agradeceu com um "Obrigado" que saiu entre dentes rangendo. Andei de volta para a mesa com as duas canecas e um homem alto, começando a ficar calvo e cheio de rugas no rosto parou na minha frente. Pedi com licença. Ele permaneceu fincado no chão.

- O senhor é jornalista, não é? Acho que precisamos conversar.

Aquilo estava parecendo cena de um dos filmes noir que eu gostava de assistir com Luiza nas matinês de domingo.

-  Olha, eu não estou comprando nada no momento, mas se o senhor quiser se juntar ali com meus amigos, será bem-vindo - menti quando disse que ele seria bem-vindo e fiz um gesto com a cabeça em direção a minha mesa.
- Sinto muito, mas o senhor vai ter de me acompanhar - ele disse tentando se impôr, como se sua altura avantajada já não fosse o suficiente.
- Olha, acho melhor outra hora - acendi um cigarro - não estou com intenção de discutir qualquer coisa séria. Isso deve ser sério, não?

Vi Heleno se aproximar por trás do cara alto. Dei a ele uma das canecas.

- O que está havendo aqui? - disse ele, parecendo um anão com quase metade do tamanho do nosso novo companheiro.
- Bem, seu colega aqui não tem muitos modos - retorquiu o grandão apontando o polegar em direção de Heleno.

Enquanto isso Marcelo e Jair levantaram-se com as cantoras fazendo clara menção de sair dali. Então o homem de barba chegou perto de nós, todos espremidos entre o balcão e as mesas.


- Epa, pra onde os senhores estão indo? Acho que podem ficar mais um pouco. O que temos pra dizer pode ser um recado muito proveitoso para todos aqui presentes.

Ele ainda falou mais algo que não entendi. Um filete grosso de sangue escorreu do meu supercílio direito quando o grandalhão me acertou com um soco inglês. Caí no chão como um pano sujo, colocando a mão direita por sobre o olho machucado. Ainda tonto vejo Heleno pegar a garrafa de uísque dos Castros e quebrá-la contra o tampo da mesa. Os dois almofadinhas se apavoram e saem correndo sem rumo, em direção a big band que continuava a tocar um clássico de Charlie Parker como se nada estivesse acontecendo. Levanto-me e agarro o barbudo, aplicando-lhe uma gravata. Nesta hora o truculento amigo do meu adversário já se engalfinhava no chão com Heleno.

De repente a energia elétrica do lugar cai e tudo ficou completamente às escuras. Ouço copos e garrafas se quebrando contra o assoalho, paredes e cabeças. O anúncio de que a confusão se generalizara. A banda já não tocava. Os únicos sons além dos socos, pontapés e vidro se quebrando eram os gritos histéricos das garotas que estavam no bar. Eu recebia socos na barriga à esmo, quando vou ao chão mais uma vez e sinto o gosto de cerveja derramada misturada com o meu próprio sangue. Dei um murro cego no ar e um pontapé surdo nas costelas de alguém. Apoiei-me sobre um das cadeiras mas não consegui ficar de pé. Ouvi o som da voz de Heleno chamando meu nome. "Estou aqui", respondo, e depois comecei a rir  por saber que naquela escuridão isso não adiantaria absolutamente nada.

Um tiro cortou o ar e o cheiro de pólvora tomou conta do ambiente.

Dois segundos depois a luz elétrica é restabelecida e percebo que estava tentando me levantar na mesa em que as cantoras estavam. Quando olhei para o lado, vi Amaral com um rifle apontado para cima mas o que lhe dava um aspecto ainda mais ameaçador era o olhar apontado para quem quisesse enfrentá-lo. Essa é a arma mais amedrontadora de um homem, no final das contas. Um covarde com uma arma só é algo perigoso pela imprevisibilidade. Um homem que sabe o que está fazendo com um rifle é ameaçador por si só.

- Quero os dois valentões trancados no banheiro. Joel, liga para a polícia - disse Almir para um de seus garçons. - Quanto ao resto de vocês, podem ir para casa depois de pagar a conta. A festa já acabou por hoje.

Os garçons prenderam os dois comparsas e depois saíram recolhendo o dinheiro de quem ainda devia algo. Heleno vem até mim com a mão no ventre, um riacho de sangue em seu lábio inferior e segurando um dente.

- Acho que é do nosso amigo gigante. Olha só o tamanho disso aqui! - falou arfando.
- Heleno, que diabos houve aqui? - perguntei ainda vendo as coisas girarem.
- Não faço idéia. Vencemos a briga? - e começou a rir como um demente.
- Acho que sim. Cadê sua garota?

Leila se levantou por detrás do balcão. Parecia a mais calma das mulheres que estavam no boteco.

- Quer que eu chame um táxi? - Joel me perguntou.
- Sim. Se não for pedir muito, pode ligar para este número também? - pego um bloco de papel do bolso, uma caneta e anoto o telefone de Luiza - Obrigado.
- Claro, Seu Artur. - e pôs-se a discar no grande telefone preto e após alguns segundo ele me me passa o aparelho.

- Alô, Luiza?
- Artur? Aconteceu alguma coisa?
- Mais ou menos. Uma briga de bar.
- Uma briga? Você está vivo pois acho que não há linhas de telefone no inferno não é mesmo? Não precisava ter me acordado por conta isso.
- Meu bem, quero saber se posso ir dormir aí hoje.
- Sim, pode. - e desligou abruptamente.

Essa era a minha Luiza. Alguém que fosse homem suficiente para tê-la como sua garota dificilmente temeria brigões de bar. Direta como um gancho. Um jab no meu queixo a cada beijo com sabor de marguerita. E eu a amava violentamente.

Leila amparava Heleno que enfim sentiu o baque. Sua maneira única e debochada de encarar as coisas conferia a ele uma resistência ímpar. Peguei o meu sobretudo e então nós três fomos para fora para pegar o táxi. Os dois companheiros de combate desceram alguns quarteirões depois, onde eu supunha ser o prédio dela. Depois de uns dez minutos eu estava em frente a casa de Luiza que me esperava na varanda com Núbia. Quando elas me viram parecia que estavam diante de um boxeador derrotado no qual apostaram todas as suas economias. Um misto de pena e raiva. Luiza entrou logo e Núbia me acompanhou até a sala. Ela me fez sentar no sofá-cama e me ajudou a tirar o terno. Pela janela, ainda podia-se ver o relógio da Catedral que marcava duas e meia da manhã.

- Não sabia que você havia trocado o jornalismo pelo boxe. Você está um nojo, aliás.
- Eu acho que escolhi a irmã errada, Núbia.
- Você só pode estar delirando. Luiza, anda logo e traz essa compressa de gelo!

Luiza veio da cozinha com seus passos miúdos e colocou a compressa em cima do meu olho roxo. Ela parecia brava. Acho que qualquer um no bar teria medo daquela expressão em seu rosto, até mesmo o Amaral.

- Vem cá, Luiza - agarrei-a pela cintura e a fiz sentar no meu colo. Dei-lhe um beijo e agora ela parecia apenas uma criança mal-criada.
- Quando o senhor vai parar de me dar preocupação? Podia ter me deixado ao menos dormir e vir com esse aborrecimento somente pela manhã.
- Eu preciso de cuidados. Querida, você não está vendo meu estado?

Ela passou a mão pelos meus cabelos e sentiu-os molhados de sangue. Colocou meu rosto contra a luz do abajur e ao se dar conta do estrago, ela pareceu finalmente arrefecer.

- Oh, Artur! O quê diabos fizeram com você?

Luiza tirou dois cigarros do maço que pulava para fora do bolso do meu terno pendurado e acendeu um para si e outro para mim. Núbia chegou na sala e avisou que havia me preparado um banho.

- Artur, aqui está um roupão do Evair. Separei um terno dele para que você vá trabalhar amanhã daqui mesmo.
- Obrigado, você é a melhor cunhada do mundo.
- Só me chame de cunhada quando os pombinhos casarem - e rumou para o seu quarto.

Minha noiva ajudou-me a ir até o banheiro. Despi-me e entrei na banheira. Era muito boa a sensação da água quente cobrindo todo o meu corpo após um dia de trabalho, bebida e briga. Quando volto para a sala de estar, Luiza estava ouvindo How High the Noon com Les Paul e Mary Ford. Ajeitei o sofá-cama e deitei-me. Bati no estofado fazendo um sinal para que ela chegasse mais perto.

- Não vá pro seu quarto agora. - falei em seu ouvido.

- Talvez eu não vá. - ela disse sonolentamente.

Adormecemos abraçados ali mesmo. Despertei sentindo o cheiro dos ovos mexidos que Núbia preparava para o desjejum. Perguntei por Luiza.

- Ela já foi ao trabalho. - foi a resposta que ouvi.

Olhei no relógio de pulso e vi que não chegaria a tempo na redação. Fui ao banheiro, lavei o rosto e depois tomei o café da manhã com Núbia. Agradeci pela estadia e fui até a rua da frente, onde o bonde parava. Cheguei à sede do jornal às 12:15.

- Você está três horas e quinze minutos atrasado - Matias disse assim que entrei.

Curvei-me sobre a sua mesa, abaixei o wayfarer e falei olhando nos olhos daquele frangote:

- Matias, as bolas do Heitor já estão ficando frias. O que você está fazendo aqui escrevendo?

Ele continuou a redigir em sua máquina de escrever sem nada falar. Dou alguns passos até a minha mesa e vejo Heleno saindo da pequena sala que usavámos para tomar café e lanchar. Sua mão encosta no meu ombro e sua voz grossa diz: "Que baita noite, companheiro". Frank Rockfeller estava do lado e murmura algo.

- Cala a boca que você é um fresco! - disse Heleno apontando-lhe o dedo na cara.

Antes que José de Arimatéia dissesse alguma coisa, Heitor põe-se para fora de sua sala com seu corpo atarracado. Sua cabeça calva já suava.

- Pelo amor de Deus, Artur! Que trapo você está! - ele bradou.

Apenas assenti com um gesto de cabeça.

- Heitor, se eu estou um trapo, você já se olhou no espelho alguma vez? - falei enquanto mexia em uns papéis.

- Garoto, na minha sala, agora.

Fechei a pequena porta onde a palavra "Editor-Chefe" estava grafada.

- Que porra aconteceu com você e o Heleno ontem à noite?
- Nós dois estavámos aqui do lado, no bar do Amaral e dois homenzarrões procuraram briga.
- Eu liguei pro Osvado, meu contato no 22º Distrito. Esses dois caras são dois delinquentes com uma ficha bem movimentada. Agressão, furto, assalto à mão armada, estelionato... Uma bela coleção, não acha? Negaram que alguém os tenha pago pra dar um aviso para você. Ele perguntou se vocês não iriam prestar queixa.
- Talvez. Mas o único ataque contundente que fiz no jornal foi ao antigo governador. E ele está morto há cinco anos. Bem estranho um morto mandar alguns jagunços darem um jeito em mim.
- Bem, acho que você não viu a nossa manchete vespertina.

Olhei para as letras garrafais:

                   RADIALISTA É MORTO EM EMISSORA DO INTERIOR
                                   
- Quando aconteceu isso, Heitor?
- Ontem à noite, logo depois da briga no Amaral.
- E a polícia já tem alguma pista?
- Sim, já prenderam o assassino. O infeliz fugia num jeep mas caiu num barranco. Todo mundo sabe que foi o governador. Esse radialista atacava a gestão do Ribeiro como ninguém. Aliás, já deu uma olhada no nome dele?

Li o início da matéria.

"Na madrugada desta quinta-feira, dia 7 de junho, o radialista Artur Benevides, dono da Rádio Costa Leste, foi alvejado por seis tiros calibre 42 e deu entrada no Hospital Pierre Curie já praticamente morto. O corpo será velado..."


Arregalei os olhos. O radialista morto era meu homônimo.

- Entendeu agora porque queriam te pegar, Artur? Alguém deve ter percebido que se tratava do cara errado e mexeram os pauzinhos lá em Campo Belo para pegar o radialista. Você é bem mais conhecido por trabalhar na capital claro que sobraria pra ti. Eu o conheci o seu xará na posse do Ribeiro no ano passado. Parecia um bom sujeito.
- Triste saber que eu poderia ter apanhado por algum motivo que realmente existisse.
- Você tem que tirar férias, garoto. Há quanto tempo mesmo que você não faz isso?
- Três anos. Ou mais. Não sei, acho que já perdi a conta.
- Ou você tira férias agora ou eu serei forçado a te demitir. Ouvi dizer que a Costa Oeste está procurando redatores - disse Heitor, contendo-se para não rir.
- Tudo bem, Heitor. Obrigado, até daqui um mês.
- De nada, Artur. Aproveite. Você vai para um dos chalés dos Braz com a Luiza? Eles servem um pescado delicioso por lá.
- Isso, isso mesmo. Até logo, chefe.

Saí da sala do editor-chefe com a idéia de realmente ir para a praia e alugar um chalé. Eu não tirava férias há tanto tempo que não tinha idéia do que fazer com o tempo livre. Ainda bem que Heitor me lembrou desse lugar. Disse para Heleno que só voltaria dali a trinta dias e o convidei para passar um final de semana conosco no litoral. Ele poderia levar Salete, Leila, Carla ou qualquer uma de suas garotas. E ele o faria, por saber que Luiza jamais se incomodaria.

Coincidentemente, meu Ford 1947 sairia do concerto naquele mesmo dia. Passei na oficina do Manoel e paguei o preço combinado. Acelerei o veículo e fui até a casa de Luiza, que já devia ter voltando do trabalho de meio-período na Biblioteca da Faculdade de Direito. Toquei a campainha e ela saiu lá de dentro esfregando as mãos no avental. Abracei-a firmemente e beijei seus lábios.

- Meu bem, arruma as malas e vem pro litoral comigo. Fui obrigado a tirar férias.
- Mas não posso abandonar o meu trabalho...
- Claro que pode. Você não vai mudar de emprego e trabalhar na Biblioteca Municipal? Eu realmente preciso de você nesse mês.

Após uma dose de café forte preparado por Núbia, Luiza desceu das escadas com sua mala e seu chapéu que eu havia lhe dado no último natal.

- Você está linda - eu disse do andar de baixo.

Entramos no Ford e bastava apenas recolher meus pertences no meu apartamento. Depois ela me ensinaria como é ter um tempo para si mesmo e para as pessoas que importam na sua vida. Eu já não sabia como fazer isso. Finalmente eu estaria longe daquela cidade cinzenta e cheia de concreto, pelo menos por quatro semanas. Já na estrada rumo a praia, estava feliz por me afastar cada vez mais daquele maldito relógio da catedral, que todas as vezes me lembrava o quanto eu estava cinco minutos distante do que eu realmente queria.







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